O Maracatu de Baque Virado, ou Maracatu Nação, é uma manifestação popular da cultura afro-brasileira, urbana, de forte cunho religioso e de origem escrava, sob a qual os escravos trazidos da África, na tentativa de manter suas origens religiosas, realizavam seus cultos e cerimônias. Tornou-se uma cultura popular de resistência afro-descendente, surgida no final do século XIX, sendo ainda hoje uma manifestação que reconhece na Música o principal veículo de comunicação da história oral brasileira.
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Além de ritmo musical, o maracatu também é dança e ritual de sincretismo religioso com origem no estado brasileiro de Pernambuco.
Existem 3 tipos, conforme o "baque" ou batida: Maracatu Nação (Baque Virado), Maracatu Rural (Baque Solto) e o Maracatu Cearense. O primeiro, bastante comum na área metropolitana do Recife, é o mais antigo ritmo afro-brasileiro; e o segundo é característico da cidade de Nazaré da Mata (Zona da Mata Norte de Pernambuco).
Perpetuado predominantemente no estado de Pernambuco, principalmente na cidade de Recife, o Maracatu de Baque Virado está inserido no ciclo carnavalesco. Simboliza, entre outras coisas, a coroação dos Reis do Congo, feita em forma de cortejo.
O cortejo é composto pelos personagens da Corte Real, os quais dançam seguidos por uma orquestra de percussão, composta pelos “batuqueiros” e seus instrumentos: alfaias, tocadas com baquetas específicas, agbês, mineros, atabaques, taróis, caixas e gonguê, além de uma voz solo, comandada pelo Mestre, e o coro de vozes.
O Mestre (ou puxador) comanda o baque com seu apito e canta a loa, que é respondida pelos batuqueiros, baianas e todos os integrantes. Todos desfilam juntos, em blocos, em forma de “arrastão”. As loas são pré-elaboradas e falam da história do maracatu, da sua origem, da tradição, versam sobre o candomblé, o abolicionismo, a procedência escrava.
Após um intenso processo de decadência dos maracatus de Recife durante quase todo o século XX, ocorreu nos anos 1990 o que podemos chamar de “Boom do Maracatu”.
A prática ancestral adquiriu uma notoriedade que nunca havia conquistado antes, resultado, entre outras coisas, da ação do Movimento Negro Unificado (MNU) junto a Nação Leão Coroado, (uma das nações mais tradicionais de Recife), do movimento Mangue Beat (que tem como principais expoentes Chico Science e o grupo Nação Zumbi, a Banda Mestre Ambrósio, entre outros), e do grupo Nação Pernambuco (uma de suas principais marcas foi ter separado a dimensão da música e da dança do Maracatu de sua dimensão religiosa).
Nesse contexto o Maracatu de Baque Virado saiu de seu palco principal que é a cidade de Recife e chegou a diversos lugares do país e do mundo. Atualmente existem grupos percussivos que trabalham com elementos da Cultura do Maracatu Nação em quase todos os estados brasileiros e em diversos países como Canadá, Inglaterra, França, Estados Unidos da América, Japão, Escócia, Alemanha, Espanha, entre outros.
Outros tipos de Maracatu
Além do Maracatu de Baque Virado existem outras manifestações da Cultura Popular Brasileira que levam o nome de Maracatu, ou como é dito popularmente, existem outros tipos de Maracatu, diferentes do ponto de vista da estrutura, dos personagens e das características musicais. São eles o Maracatu de Baque Solto também chamado de Maracatu Rural ou de Orquestra e o Maracatu Cearense.
O Maracatu Rural
O Maracatu Rural também é uma brincadeira que se originou onde hoje é o estado de Pernambuco, provavelmente entre os séculos XIX e XX. Como no Maracatu Nação, este possui um setor responsável pela execução da música e outro formado por personagens caracterizados, mas seus personagens, sua música, seus instrumentos e suas apresentações são completamente diferentes.
No Maracatu Rural a parte musical conta com um conjunto de metais (clarinete, saxofone, trombone, corneta ou pistom), além da percussão formada normalmente por tarol ou caixa, surdo, ganzá, chocalhos, porca (cuíca), zabumba e gonguê. O ritmo é mais acelerado em relação ao Maracatu Nação e o coro é exclusivamente feminino.
Entre os personagens estão Reis, Rainhas, Catirinas, Damas do Passo, Caboclos de Pena e outros mais. Nos últimos anos tem ganhado bastante destaque a figura do Caboclos de Lança, que além de realizar sua dança movendo sua lança em todas as direções, levam nas costas chocalhos (que também podemos chamar de guisos ou sinetas), dando a marcação acelerada do Maracatu de Baque Solto.
O Maracatu Cearense
Já o Maracatu Cearense, que também é uma brincadeira que tem na sua estrutura o desfile de uma corte seguida por percussão, apresenta características que não podemos encontrar nos outros “tipos de Maracatu”, entre elas chama a atenção o rosto pintado de preto dos brincantes e o baque lento e cadenciado. Os conhecedores e estudiosas de Cultura Popular ainda destacariam os personagens como o Balaieiro e o casal de Pretos Velhos.
Assim como no Maracatu de Baque Virado existem divergências sobre as primeiras ocorrências do Maracatu do Ceará. Parecem não existir registros confiáveis antes de 1950, no entanto estudiosos afirmam que ele surgiu dos Autos do Congo, prática que estaria presente no Estado já em meados do século XIX, tendo ligação com as Irmandades do Rosário. Vale destacar que já no século XVIII mais precisamente em 1730 foi fundada em Fortaleza uma Igreja de Nossa Senhora do Rosário, construída de certo por uma Irmandade.
Existe ainda em Fortaleza um museu dedicado ao Maracatu Cearense, que funciona nos fundos do Teatro São José e conta com mais de 200 peças entre vestuário, objetos de senzala, instrumentos e personagens.
Fontes:
http://maracatu.org.br
https://nacaoportorico.maracatu.org.br
https://pt.wikipedia.org/wiki/Maracatu