O Ijexá é um ritmo ritualístico de origem africana, oriundo da cidade de Ilesa, na Nigéria, e que chegou ao Brasil pela Bahia, onde recebemos o enorme contingente de iorubás escravizados que chegaram neste estado do final do século XVII até a metade do século XIX.
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No Candomblé nagô da Bahia, é fortemente empregado nos cultos religiosos. No final do século XIX, o ijexá passou a transcender os rituais para chegar às ruas de Salvador por meio dos afoxés: o primeiro deles a desfilar foi no ano de 1895. Em 1897 outro grupo apresentou-se com o tema "As Cortes de Oxalá", até que em 1922 se deu o primeiro afoxé devidamente organizado e integrando o cortejo do carnaval: o "Afoxé Papai Folia".
Uma das primeiras gravações conhecidas deste gênero musical foi a música "Babaô Miloquê", pelo cantor e compositor baiano Josué de Barros, acompanhado da Orquestra Victor Brasileira, regida por Pixinguinha, que também foi o arranjador da música lançada no ano de 1930 e anunciada como "batuque africano".
O ritmo foi sempre o toque característico do Afoxé Filhos de Gandhy que, fundado em 1949, é uma referência na capital baiana para o ijexá. Também o cantor Gilberto Gil, responsável pelo fortalecimento deste afoxé, tem toda uma produção em que o ijexá se faz presente.
O ijexá tem por padrão rítmico original a presença de três tambores (Rum, Rumpi e Lé), agogô (gã) e vozes, com um andamento próprio.
Ao longo do tempo, entretanto, o ritmo passou por várias mudanças, fruto da sua assimilação pela cultura do país, de modo que sofreu reduções, adaptações e mudanças "que atingiram a temática, o padrão rítmico, a forma de se cantar, a instrumentação, o sentido de sua realização". Desse modo o ijexá incorporou instrumentos comuns na música popular, como violão e guitarra, bateria, contrabaixo, pandeiro e até piano.
o Desfile de Afoxés, ou Cortejo de Afoxés, como também é chamado, foi reconhecido como patrimônio cultural imaterial da Bahia. O decreto estadual, assinado pelo governador Jaques Wagner no dia 29 de novembro de 2010, foi festejado pelos representantes dos afoxés no dia seguinte, durante cerimônia de divulgação, no Palácio da Aclamação, no Campo Grande, na capital baiana.
“Durante muito tempo, o segmento afoxé passou por um processo de desgaste muito grande, em função da falta de apoio do governo a esta manifestação de matriz africana na Bahia. Com essa decisão de tornar o afoxé patrimônio imaterial, acreditamos numa reparação. Sem contar na respeitabilidade, dignidade e credibilidade do segmento”, observou Iracema, Diretora do Afoxé Kambalagwanze - Bahia.
O Afoxé Filhos de Gandhy, que já foi sido reconhecido pelo Livro dos Recordes (Guiness Book) como maior afoxé do mundo, celebra a nova conquista. “Precisávamos ser reconhecidos para ter mais valor”, disse o presidente da agremiação, Agnaldo Silva.
O ritmo está presente no repertório de diversos blocos do Carnaval do Rio de Janeiro, sendo executado até mesmo pelas Escolas de Samba, através de arranjos e momentos para destacar a bateria.
Para o presidente da Associação de Afoxés da Bahia, Nadinho do Congo, a história ganha um importante reforço com o reconhecimento.
Essa influência e mistura demonstra, também nesse ritmo de matriz africana, a contribuição sócio-musical das comunidades negras para a originalidade e diversidade da música popular brasileira e de nossa cultura.
Reconhecer e valorizar a origem do que estamos tocando é importante para que a cultura como um todo seja melhor preservada e valorizada.
Fontes:
http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/3174
http://www.enecult.ufba.br/modulos/submissao/Upload-484/111764.pdf
https://www.revistas.usp.br/revusp/article/download/127596/124647/0
https://youtu.be/TuK3UkLEMpI